Tranquilize-se

[...]
Há dois tipos de problemas.
Primeiro, os problemas reais: uma cólica renal, uma goteira, uma conta para pagar, uma perna quebrada, um pneu furado, os pratos do jantar para lavar, um amor que não deu certo, uma pessoa querida que morreu.
Esses problemas se resolvem de duas formas. Os pratos a gente lava, o pneu a gente troca, a perna quebrada se encana, Problemas que devem ser resolvidos sem reclamação e sem muito falatório, pois reclamações e falatórios, além de nada contribuírem para a solução dos mesmos, só servem pra produzir irritação. Os faladores são especialistas nisso.
Outros não têm solução. O amor que não deu certo, a pessoa querida que morreu: só resta chorar. E o importante é enxotar os consoladores, que são a praga mor daqueles que estão sofrendo. Os consoladores acham sempre que suas tolas palavras são capazes de encher o vazio do sofrimento.
Problemas, sofrimentos, frustrações são partes da vida. Não é possível evitá-los. Mas é possível sofrê-los com sabedoria. [...]

Rubem Alves. Cenas da vida, págs. 48-49.

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